A neurociência aplicada à arquitetura (Neuroarquitetura) é um campo multidisciplinar em que se pretende estudar de que forma os espaços impactam no cérebro humano e consequentemente no seu comportamento, emoções e bem-estar. O termo ganhou maior relevância na última década, contudo, a relação entre neurociência e arquitetura remonta a um período anterior. As primeiras pesquisas realizadas remontam ao ano 2000 e foram realizadas pelo neurocientista Fred Gage e pelo arquiteto Eve Edelsein. Em 2003 é criada, por ambos, a The Academy of Neuroscience for Architecture em San Diego (Califórnia).
A neurociência oferece uma base científica para percebermos como as caraterísticas dos espaços físicos – luz, som, texturas, formas, cores e organização espacial – afetam diretamente o funcionamento do cérebro e os processos cognitivos. Cada um dos nossos sentidos envia informações ao cérebro que são processadas por áreas específicas, resultando em respostas cognitivas e emocionais que moldam a nossa interação com o espaço.
A informação visual é processada principalmente pelo córtex visual, localizado no lobo occipital. A partir desta área, o cérebro distribui as informações visuais para outras regiões. Por exemplo, o córtex parietal ajuda a compreender a orientação espacial e a nossa relação com o ambiente, enquanto o córtex temporal contribui para o reconhecimento de formas e padrões. Ambientes com uma iluminação adequada, proporções harmoniosas e cores específicas podem otimizar a forma como essas áreas processam a informação, promovendo calma, concentração ou estímulo cognitivo.
O estímulo sonoro é processado no córtex auditivo, localizado no lobo temporal, que interpreta a intensidade, frequência e localização dos sons. O desenho de um espaço construído pode influenciar o comportamento auditivo através da gestão do ruído e da acústica dos espaços. O ruído excessivo pode ativar áreas relacionadas ao stress, como a amígdala, uma região envolvida na resposta ao medo e ao stress, e o hipotálamo, que regula a resposta hormonal ao stress. Por outro lado, espaços com bom controlo acústico podem contribuir para um ambiente de maior conforto e foco, reduzindo a atividade dessas áreas associadas ao stress.
O córtex somatossensorial, localizado no lobo parietal, é responsável pelo processamento das sensações táteis, como textura, temperatura e pressão. Os projetos que integrem diferentes superfícies e materiais podem estimular essa área, criando uma conexão mais profunda com o ambiente.
O sistema límbico, que inclui a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal, é uma rede crucial para a regulação das emoções. É altamente sensível ao ambiente, consequentemente, muitos dos estudos na área da neuroarquitectura incidem sobre ele. A arquitetura pode ativar positivamente estas áreas, criando estados emocionais específicos, como relaxamento ou excitação. Por exemplo, o hipocampo, envolvido na memória e na aprendizagem, é ativado em espaços estimulantes que facilitam a exploração e a curiosidade, enquanto a amígdala pode ser suprimida em ambientes que transmitem segurança, reduzindo sentimentos de ansiedade.
As diferentes áreas do cérebro não funcionam isoladamente. Existe uma complexa rede de conexões intercorticais que integra as informações sensoriais. O córtex pré-frontal, por ex., que coordena o pensamento crítico, a tomada de decisões e a regulação emocional, recebe e processa informações de várias áreas sensoriais. A forma como os estímulos visuais, auditivos e táteis se combinam num espaço pode influenciar a atividade cerebral nesta área, promovendo ou dificultando o foco e a produtividade.
A neuroarquitetura também se relaciona com o conceito de neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro se reorganizar em resposta a estímulos repetidos. Isso significa que os ambientes nos quais passamos muito tempo podem moldar permanentemente a nossa estrutura cerebral, afetando a forma como reagimos aos futuros estímulos. Espaços mais estruturados estimulam positivamente as diferentes áreas cerebrais e podem melhorar a nossa capacidade cognitiva e emocional ao longo do tempo, enquanto ambientes que induzem stress ou estão desorganizados podem ter o efeito contrário.